Fobia de ser observado por patos é real? O que é anatidaefobia?

Há muitos estímulos e situações no mundo que podem gerar medo. O medo de modo geral é algo bom. O medo é uma emoção que nos leva a reagir ativamente para enfrentar uma possível ameaça ou fugir dela, permitindo nossa sobrevivência e adaptação às situações.

Porém, às vezes a reação de pânico que pode ocorrer antes de alguma situação é excessiva em comparação com a ameaça, ou a situação em questão não representa perigo para o sujeito em questão.

Anatidaefobia
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Isto é o que acontece com as pessoas que sofrem de fobias. Com o objetivo de gerar um contraponto cômico a este tipo de patologia foram criadas fobias fictícias.

Um exemplo destas fobias fictícias é a anatidaefobia: o medo de ser observado por um pato. Entender sobre fobias fictícias é importante pois ajuda a distinguir sobre fobias verdadeiras e as fictícias. Algumas fobias são tão específicas a ponto de parecer pura ficção.

O que é Anatidaefobia

Anatidaefobia o medo irracional e incontrolável de que um pato em algum lugar não especificado esteja nos observando. Este sentimento pode surgir a qualquer momento, não importa onde estejamos. A ave pode estar escondida entre os arbustos em um parque ou na casa de um amigo ou até debaixo do sofá.

É uma fobia muito rara, que afeta pessoas que passaram por experiências traumáticas com um ou mais membros da família dos patos. No youtube é possível encontrar muitos vídeos de patos atacando pessoas por apenas terem passado perto de um lago.

Tais episódios desagradáveis, se ocorreram na infância, permanecem gravados na memória e se transformam em fobias reais.

Entendendo as fobias

Uma fobia é um medo extremo de algo. As fobias podem ser ao mesmo tempo irracionais e paralisantes. Na verdade, a irracionalidade é o que faz de uma fobia uma fobia.

Ter medo do pato numa lagoa porque ele atacou seu cão sem uma boa razão é racional. Ter medo de todos os patos em todos os lugares porque você acha que eles podem estar de olho em você e esperar para atacar não é.

Entretanto, mesmo sabendo que se trata de um medo irracional, uma pessoa que sofre de anatidaefobia não pode impedir a si mesma de sentir um medo intenso ao simples olhar de um ganso ou um pato.

Uma pessoa que sofre de fobia sentirá sintomas mentais e físicos quando o estímulo relacionado estiver presente, como ansiedade, um ataque de pânico, tremores e náuseas. É por isso que mesmo as fobias mais engraçadas devem ser levadas a sério, pois é mais do que provável que haja alguém lá fora que sofra dessa mesma condição a ponto de interferir na sua capacidade de desfrutar das atividades diárias.

Como a fobia está relacionada com a ansiedade

Fobias e ansiedade andam de mãos dadas. Como a ansiedade não é uma sensação agradável, aqueles que sofrem de fobias muitas vezes fazem de tudo para evitar esta sensação.

Por exemplo, alguém que tem belonofobia, ou medo de agulhas, pode evitar agendar consultas médicas regulares para não ter que se preocupar em estar na mesma sala com uma agulha.

Mesmo quando uma situação que causa a fobia é aparentemente inevitável, a pessoa pode se recusar a sair de casa para evitar o confronto com o estímulo da sua fobia.  Nessas situações, é muito difícil para a pessoa procurar ajuda porque ela não pode sair de casa para ir ao médico.

A origem da anatidaefobia

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Anatidaefobia é uma criação de Gary Larson, cartunista e criador da popular banda desenhada The Far Side, e é uma fobia que pertence à categoria de fobias fictícias e de humor. A palavra “anatidaefobia” pode ser decomposta em “Anatidae”, que é grego para patos, gansos e outros tipos de aves aquáticas, e “Fobia”, palavra originária do grego que significa medo ou pavor.

Enquanto fobias ficcionais e humorísticas podem ser conjugadas como uma resposta à ideia de que “qualquer um pode ter medo de qualquer coisa, e, portanto, qualquer coisa pode ser uma fobia”.

Os criadores deste termo acertaram em cheio, por assim dizer, pois alguém que sofre com este medo se sente grato por poder ser referir a tal fobia pelo nome.

Mas tecnicamente, ninguém pode sofrer de ‘anatidaefobia’ porque o nome em si não é um termo psiquiátrico oficial. Mas, o medo de patos é algo real e pode ser classificado como um outro nome de fobia que é reconhecida por profissionais, a ornitofobia.

As fobias são medos sérios e não devem ser levadas na brincadeira. Entretanto, pode ser terapêutico para alguém ver seu medo sob uma luz cômica. Isto porque pode ser divertido rir do material relacionado a fobia e levar a pessoa a aceitar seu medo e não mais reagir a esse estímulo particular com terror, mas com riso.

Ainda assim, o medo de gansos ou patos tem o potencial de ser debilitante, pois a pessoa que sofre desta condição pode sentir que não pode fazer nada porque está constantemente preocupada com um pato ou pode sentir que algum pato que pode estar observando.

O que pode causar o Medo de patos (anatidaefobia)

As causas da existência de várias fobias têm sido objeto de discussão científica ao longo da história, com várias perspectivas teóricas e modelos sendo desenvolvidos a esse respeito.

No caso de fobias de animais deve-se ser considerado a teoria de preparação de Seligman. Este autor acreditava que uma possível explicação para as fobias estaria ligada à hereditariedade, pois nossos ancestrais teriam aprendido e transmitido a propensão de reagir com medo aos estímulos que ameaçavam sua sobrevivência, como acontece com as aranhas e escorpiões e até mesmo com alguns tipos de ave.

Neste sentido, puxando a imaginação, a fobia de patos pode fazer algum sentido evolutivo: os patos são animais voadores que podem ser comparados a aves de rapina, que são capazes de nos perseguir de cima.

Entretanto, a realidade é que faz pouco sentido desenvolver um mecanismo psicológico inato deste estilo. Primeiro, porque as aves de rapina não caçam ou já caçaram. Segundo, porque mesmo que houvesse aves que representassem um perigo, isto teria que ser muito importante para que compensasse o fato de estarmos sempre vigilantes no caso de uma ave nos observar. E terceiro, porque não faz sentido desenvolver este medo somente no caso de patos, e não no caso de outras aves carnívoras, como os falcões.

Outro grande ponto a ser considerado sobre adquirir uma fobia é a aprendizagem e a interiorização do medo de um estímulo concreto. O que é possível, por exemplo, diante da experiência ou visualização de uma experiência negativa, especialmente se ela ocorre durante a infância.

Pensando na anatidaefobia, pode ser que na infância um pato atacasse uma pessoa em algum momento depois de observar, o que poderia levar a pessoa a associar o olhar do pato com sua dor ou o medo que sentiu na situação.

Outra opção pode estar em pessoas que foram humilhadas ou sofreram algo que as envergonha na presença desses animais. Mas é pouco provável que isto seja o suficiente para criar tal diagnóstico de fobia.

O que uma pessoa com anatidaefobia pode sentir

Os sintomas de anatidaefobia são semelhantes aos observados em casos de outras fobias. Os sintomas podem ser físicos, mentais ou emocionais, e podem ser diferentes de pessoa para pessoa, já que cada um experimenta uma situação diferente e, como tal, reage de forma diferente a estímulos diferentes.

Alguém que não tem anatidaefobia pode rir da ideia que um pato ou ganso assusta a uma pessoa. Mas para uma pessoa com anatidaefobia, este medo é constante e prevalece em sua mente. Em casos extremos, eles podem se recusar a sair de suas casas por medo de ter um pato cruzando seu caminho.

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Os sintomas físicos da anatidaefobia podem incluir suor, tremor, aumento da pressão arterial, boca seca, sensação de asfixia e medo paralisante que faz com que a pessoa pare de repente e fique enraizada no local.

Ele ou ela pode tentar gritar ou até mesmo fugir. Algumas pessoas que sofrem de anatidaefobia também lidam com o medo de perder o controle por completo do seu corpo. Como por exemplo, sucumbir a um episódio potencialmente embaraçoso que inclui desmaios, vertigens ou choro.

Dor no peito e problemas gastrointestinais não são incomuns para quem tem essa fobia, nem a sensação de estar morrendo ou preso. Aqueles que sofrem de anatidaefobia e têm medo de sair de suas casas podem chegar a extremos ao ponto de evitar viajar para uma área conhecida por ter grandes populações de patos.

A anatidaefobia é uma fobia verdadeira?

A anatidaefobia não é reconhecida como um distúrbio oficial no Manual de Diagnóstico de Distúrbios Mentais, quinta edição (DSM-5). Mas seus sintomas enquadram-se nos critérios diagnósticos para “Fobia específica: tipo animal”.

A anatidaefobia pode parecer uma fobia verdadeira. Mas o medo de ser constantemente observada por um pato é na verdade uma fobia fictícia criada para o entretenimento.

Na realidade as pessoas que têm fobia de patos na verdade sofrem da ornitofobia. A ornitofobia, ou o medo das aves, é um tipo animal de fobia específica. Algumas pessoas com este tipo de fobia podem temer todas as aves ou apenas um tipo específico de ave, como um pato.

Embora a anatidaefobia possa não ser real, o medo de patos é uma fobia muito real.

Que tratamentos são usados em fobias?

Como as outras fobias, as terapias mais adequadas no caso de anatidaefobia, seriam a terapia de exposição ou a dessensibilização sistemática. Esta terapia é baseada na exposição gradual ao estímulo que causa o medo. Isso se dá através do monitoramento desenvolvida entre o praticante e o cliente, de modo que pouco a pouco o sujeito seja exposto a situações que geram a ansiedade.

Neste caso é possível lidar com o medo de patos por se aproximar de um parque e observar um pato a diferentes distâncias com supervisão, depois sem supervisão, e mais tarde incorporando mais aves.

Mas qualquer terapia ou tratamento contra fobia é preciso acompanhamento médico. Um especialista em fobia é capaz de orientar e desenvolver tratamento específicos para cada pessoa.

Referências

  1. American Psychiatric Association. (2013).Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders(5th ed.).
  2. World Health Organization. (2008).ICD-10: International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems (10th Rev.).
  3. Associação Brasileira de Psiquiatria, Revista Brasileira de Psiquiatria Outubro/2013
    Disponível em: <http://www.cbpabp.org.br/hotsite/wp-content/uploads/2020/01/rbp_35.pdf>